domingo, 19 de maio de 2013

Tigelas art déco decor 510 - Sacavém



De volta à loiça utilitária nacional, hoje mostramos duas tigelas de faiança moldada embora com formas e dimensões distintas da Fábrica de Loiça de Sacavém (FLS). Em ambas, sobre o fundo branco, a decoração bicroma é feita segundo a técnica da estampilha aerografada, numa composição geométrica de quadrados, a castanho-alaranjado, e círculos a verde, intercalados mas desalinhados e ligeiramente e sobrepostos, ambos em dégradé do exterior para o centro, dando uma leitura de tridimensionalidade. Nas duas o bojo, junto ao bocal, é debruado com filete a castanho-alaranjado. 
Data: c. 1930 - 40


A mais pequena (alt c. 9,5 cm - c/tampa - x Ø c. 10,2 cm) apresenta forma de calote esférica assente em pequeno pé contracurvado, correspondente ao “formato francês”, e tampa com decoração idêntica à do bojo cintada por filete castanho-alaranjado que cinge igualmente a pega. No fundo da base, carimbo verde, Gilman & Ctª – Sacavém – Portugal e U.

A de maiores dimensões (alt. c. 8,4 x Ø c. 14 cm), sem tampa (é provável que originalmente tenha tido uma), apresenta um formato diferente, com bojo em calote tendencialmente esférica, mas alongada, que termina numa aresta viva sobre canelura de onde parte o pé curvo. No fundo da base carimbos verde «Made in Portugal» inscrito numa oval, «510» e F.
 
O verbete da FLS que se ilustra, gentilmente cedido pelo Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (MCS-CDMJA) informa-nos que se trata da decoração «nº 510 para tijelas formato Francez, Lisas e c/ tampa».


Todavia, como se percebe nestes dois exemplares, a decoração foi aplicada em peças que não corresponderão ao dito formato francês, claro apenas no exemplar mais pequeno. Ou será que a fábrica atribuía a mesma designação a modelos com ligeiras variantes? Alguém nos sabe esclarecer?

Esta tigelas com decoração aerografada tiveram um período de produção longa que chegou praticamente à data de encerramento da FLS na década de 80 do século XX, embora com outras marcas.

A decoração demonstra claramente a influência alemã em certa produção portuguesa. Veja-se as semelhanças evidentes com a decoração da base de bolos, sem marca (trata-se de uma peça da fábrica Colditz, decor nº 7568 e forma nº 23) dessa nacionalidade, encontrada na net e que aqui se ilustra.


sábado, 11 de maio de 2013

Caixa art déco – Eschenbach (Alemanha)



Caixa art déco de porcelana moldada, possivelmente uma bomboneira, de cor branca com decoração de inspiração vegetalista estampada em dois tons de azul e ouro. O contentor, de forma troncocónica, como um vaso, assenta sobre três pés formados por quatro folhas a branco, azul e ouro, escalonadas em curva, presas por um botão facetado, igualmente a ouro. Em cada um dos três panos, a decoração estilizada sugere-nos um vaso Bauhaus com cactos a azul, complementados por estrela e círculo quadriculado, ambos a ouro. O ressalto onde assenta a tampa, na parte inferior, apresenta filete a ouro. A tampa é constituída por dois troncos de cone que se sobrepõem. A eixo do inferior, muito aberto e baixo, projecta-se o superior, mais fechado e alto, rematado por pega esférica a ouro. O primeiro apresenta decoração estilizada de cactos a azul e filete dourado no bordo, o segundo quatro filetes a ouro na base e três na parte superior junto à pega. No fundo da base, carimbo verde EschenbachBavaria (com dois pontos sob o «va») sobrepujado por coroa (marca que corresponde ao período de 1929 a 1935).
Data: c. 1929-35
Dimensões: Alt. 19,5 cm


Embora conservadora para os padrões alemães, e a decoração reflicta uma reinterpretação estilizada neo-rococó, esta caixa é mais um exemplo da tendência germânica para, a partir dos sólidos geométricos, neste caso cones e esferas, conceber objectos decorativos vanguardistas numa evidente filiação bauhausiana. Veja-se, a título de exemplo, os figurinos do «Ballet Triádico» de Oskar Schlemmer, estreado em 1922.


Haveremos de continuar a mostrar vários exemplos de caixas de formas geometrizadas que ilustram esta vertente do Art Déco alemão, onde a inventividade e mesmo a extravagância atingem os limites da imaginação como já tivemos oportunidade de referir.


A fábrica que posteriormente haveria de se chamar Eschenbach, foi fundada por Eduard Haberländer, em Windischeschenbach, em 1913. A produção começou verdadeiramente em 1916 em pequena quantidade e com produtos de baixo valor.

Em 1929 foi adquirida pela Porzellanfabrik Oscar Schaller & Co. Nachfolger, tomando então o nome por que é hoje conhecida. Com uma nova filosofia de gestão, a linha de produtos foi renovada. Até 1935 a porcelana de Eschenbach gozava de uma sólida reputação e a empresa possuía uma boa situação económica. A Segunda Guerra Mundial vai ser violenta para a fábrica, que perdeu toda a documentação e catálogos, destruídos pelas tropas americanas que ocuparam o edifício, a que se somou a perda durante a guerra de muitas peças aí produzidas. Daí que sobreviva um número relativamente escasso de exemplares da produção deste período da Eschenbach e se conheça tão pouco sobre ela.

No pós-guerra a produção recomeçou com moldes da desaparecida Porzellan-Manufaktur Allach-München G.m.b.H, recuperando nos dez anos seguintes a situação económica perdida. Em 1950 foi comprada pela Companhia Winterling. Sucessivamente adquirida por outras empresas, a fábrica continua hoje em laboração produzindo porcelana de qualidade para hotelaria.



domingo, 5 de maio de 2013

Jarra Arte Nova - Rörstrand (Suécia)


Jarra Arte Nova de porcelana moldada, de forma bulbosa, de cor branca com decoração constituída por três hastes florais, dispostas regularmente, subtilmente relevadas segundo a técnica da pâte-sur-pâte, em tons pastel, com folhagem verde-cinza e corolas a lilás pálido. No fundo da base, carimbos a verde, Rörstrand e .E., e inciso na pasta, 8409.
Data: c. 1900
Dimensões: Alt. 9 cm x Ø 12 cm


A delicadeza com que partes das pétalas e das folhas sobressaem da superfície lisa e branca dá uma impressão de fragilidade e transparência que parece anular a densidade e espessura da matéria, como se as flores estivessem soltas no vazio.


A letra «.E.» indica-nos tratar-se de uma peça concebida e pintada pela modeladora e decoradora Astrid Ewerlöf (1876-1927). Ceramista e pintora de porcelana nascida em Estocolmo em 8 de Novembro de 1876, Astrid licencia-se na Högre Konstindustriella Skolan (Escola Superior de Arte e Design) da cidade, em 1899, sendo nessa data contratada pela fábrica de Rörstrand como pintora de porcelana onde se manteve até 1917. Para além de pintar vai também criar modelos próprios, caso da jarra que apresentamos. Morre aos 51 anos, em 31 de Janeiro de 1927, tendo vivido os últimos dez anos da sua vida na companhia de sua irmã mais nova, Alfhild Ewerlöf (1885-1967), em Drottningholmsvägen, na sua cidade natal.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Par de jarras “Portugália” a castanho e ouro – Sacavém



Em 4 de Junho de 2012 apresentámos este mesmo formato Portugália com outra decoração e outra técnica. Recordamos que o modelo aparece retratado sob o nº 20 no catálogo de formatos de jarras da Fábrica de Loiça de Sacavém de c. 1930, não impresso, existente no Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso.
Neste caso temos a sorte de possuir um par. Jarras de faiança moldada de cor castanho-escuro vidrado com decoração manual a ouro sobre o mesmo, numa imitação de esponjados delineados por filetes também a ouro que, como molduras, enquadram quatro rectângulos deixados em reserva no bojo. De certa maneira integram-se numa estética art déco. No fundo da base carimbo castanho Gilman & Ctª – Sacavém.
Data: c.1935-45 (?)
Dimensões: alt. c. 20 cm